Na atualidade, temos uma vasta literatura que confirma os efeitos benéficos da prática de exercícios em pacientes que desenvolvem um câncer, o que eu denomino de Fisioterapia Oncológica Sistêmica, considerando o processo de prevenção ou reabilitação da Síndrome do Imobilismo que tende a surgir consequente ao tratamento oncológico ou progressão da doença, ou seja, dos sinais e sintomas que são manifestos por diversos órgão devido a disfunção provocada por uma pior circulação no órgão devido à redução das atividades.
A Fisioterapia Oncológica Sistêmica corresponde à prescrição de exercícios regulares, preferencialmente de moderada a alta intensidade, mas de acordo com a tolerância do paciente, para tratar efeitos adversos sistêmicos do câncer ou do seu tratamento, como dor, fadiga, fraqueza, dispneia crônica ou mesmo para criar uma reserva funcional prevista de ser perdida em pacientes que serão submetidos ao tratamento oncológico.
Ela tem demonstrado ser uma estratégia efetiva, também, em pacientes que estão em quimioterapia, por combater ou minimizar os efeitos deste tratamento oncológico e com isso melhorar a aderência a quimioterapia, a qual tenta eliminar micro células neoplásicas circulantes, mas que também pode ter efeitos tóxicos em várias células sadias e que especificamente no sistema cardiovascular tem-se identificado efeitos a curto, médio e longo prazo que podem vir a se tornar a causa de morte destes pacientes, ou seja, eles passam a não morrer de câncer, mas sim da doença cardiovascular que adquiriu com a quimioterapia.
Estudos indicam que os exercícios realizados e supervisionados durante o tratamento oncológico podem reduzir sintomas como fadiga, fraqueza, dispneia, dor, ansiedade, depressão , distúrbios do sono, além de melhorar a qualidade de vida de muitos pacientes.
A fadiga é um dos sintomas mais prevalentes e incapacitantes em pacientes com câncer em tratamento, ou mesmo após finalizado o tratamento oncológico, o que pode contribuir para um atraso ao retorno das rotinas de vida e de trabalho e onerar, ainda mais, o sistema de saúde e previdenciário que financia os constantes retornos aos profissionais de saúde e as licenças de trabalho, respectivamente. Sem falar no impacto nas relações interpessoais e conjugais. Felizmente, tem sido comprovado por múltiplas boas evidências que o tratamento com melhor resposta para a fadiga oncológica, independente da causa, é a prática de exercícios físicos regulares.
A prescrição de exercícios pode ser útil, também, para orientar como realizar e progredir uma atividade física ao finalizar o tratamento oncológico, uma vez que nesta fase cerca de 30% deles ainda têm uma fadiga persistente e os exercícios teriam ainda o potencial de melhorar não apenas os desfechos relacionados a função física (mobilidade, capacidade funcional, redução da fadiga, condicionamento cardiovascular), mas também têm impacto em desfechos psíquicos (ansiedade e depressão), na redução do peso/gordura corporal, melhora a qualidade de vida, e o principal, a pratica regular de exercícios pode aumentar a sobrevida e reduzir o risco de recidiva do câncer!
Todavia a dose ideal de exercícios para cada paciente irá depender do seu condicionamento atual, do seu histórico de atividade física, do tratamento oncológico recebido, das doenças associadas e do estadio da doença. Portanto, é fundamental a avaliação do fisioterapeuta especializado em oncologia para que este possa, de forma adequada e personalizada, planejar a prescrição de exercícios e orientar o paciente a obter o máximo de benefício possível com o exercício de forma segura.
Autor: Flávia Maria Ribeiro Vital
• Graduada em Fisioterapia pela UFJF
• Especializada em Fisioterapia Cardiorrespiratória pela USP
• Especializada em Avaliação tecnológica em Saúde pela UFRGS
• Doutora em Ciências pela UNIFESP, ênfase em Saúde Baseada em Evidências
• Especialista em Fisioterapia Oncológica
• Autora do livro “Fisioterapia em oncologia: protocolos assistenciais”
• Atuou por 16 anos no Hospital do Câncer de Muriaé – Fundação Cristiano Varella como coordenadora do serviço de fisioterapia e do Programa de Aprimoramento de Fisioterapia em Oncologia
• Diretora da Vital Knowledge
• Diretora do Centro Afiliado de Minas Gerais ao Centro Cochrane do Brasil
• Professora-orientadora da Pós-graduação Stricto-sensu em Oncologia da USP
• Coordenadora das Pós-graduações Lato-sensu de Oncologia Interdisciplinar da PUC-Rio
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